Apesar da bola da vez dos próximos dez anos de propaganda e entretenimento serem protagonizados pela interatividade, seja onde for que ela ocorra, muito pouco tem se falado sobre o conteúdo interativo. E infelizmente muito pouco também tem sido produzido neste sentido. Mas nem por isso, a atenção e a relevância dessa prática representa menos do que a essência da modernização da comunicação.
No momento em que o consumidor passa a ser o controlador dos aspectos sensíveis às suas experiências de marca, o seu interesse é o que determina o seu nível de imersão e o tempo de relacionamento com ela. Assim, tudo muda de figura, ou seja, as marcas e a própria propaganda em si passam a desempenhar uma função mais ampla e ao mesmo tempo profunda com o consumidor do que simplesmente comunicar uma mensagem. E assim esse comportamento também influencia grandes produtores de conteúdo da industria do entretenimento, a TV e o cinema.
Começando pela TV, os Big Brothers da vida foram verdadeiras sementes da influência do público sobre a programação na televisão, ainda que numa ordem de grandeza de n para 1, ou seja, a maioria escolhe um resultado, uma possibilidade que é assistida por todos. No cinema no Brasil, ainda podemos considerar isolada a iniciativa do Cinema Interativo no lançamento do Fiat Idea Adventure, onde o conteúdo se desdobrava em histórias compostas por multiplas escolhas pelo público. A iniciativa até inspirou recentemente algumas outras ações como por exemplo as mini-histórias de “Antônia” no site da Globo.com.
Mas especulando ainda mais fundo, há algum tempo atrás o Brasil inteiro viu o capítulo final da novela das 8, Paraíso Tropical. Tudo bem, que a audiência aqui pode não assistir muito novela das 8, mas confesso que eu fiz parte desse “long tail” e acabei fissurado para ver quem matou a personagem gêmea-má, Thaís. A verdade é que a novela provou por A + B, que o seu final em si jamais seria tão interessante quanto a especulação sobre as possibilidades de diferentes finais. Em termos práticos, já pensou se as pessoas que se decepcionaram com a impunidade final da novela pudessem ver outros caminhos que castigariam os vilões ou ainda se os casais felizes tão previsíveis pudessem ter seus destinos modificados pelas probabilidades interativas? Enfim, não há dúvidas de que tudo seria muito mais divertido, não só o fato de existirem outros caminhos para a história acabar, mas a possibilidade de poder visualizar mais de um destino para a vida das pessoas. Afinal esse é um paradígma nato do ser-humano, que sempre se pergunta todos os dias sobre as outras escolhas que eles porventura poderiam ter feito em suas vidas.
A interatividade veio pra trazer esse poder sobrenatural para a indústria do entretenimento, e ainda especular sobre a influencia dos valores ou fantasias das pessoas dentro das histórias.
Hoje de fato a internet já é um canal perfeito para isso, a televisão em breve. Se os conteúdos produzidos pelos grandes players de entretenimento já estivessem sendo desenhados com essa amplitude, tenho certeza que o nível de aderência seria altissimo. Afinal quem não gostaria de experimentar um outro assassino para a Thaís? Não para a massa necessariamente, mas para satisfazer a própria vontade de dar um fim diferente ao senso comum ou uma simples vontade pessoal.
Enfim, será que chegou o tempo de um novo tipo de entretenimento? Imagine as novelas-games, os mini-série-games ou os filmes-games. E o melhor, com dinâmicas completamente diferentes de “mídia” ou "conveniência", esteja espectador sentado no sofa, na frente do computador ou no metrô voltando para casa.
Eu acredito que a resposta para isso tudo já está dada e muitos envolvidos ainda não acordaram para isso. É só o criativo-interativo entender que comunicação interativa é muito mais que flash, html, ajax e o criativo de programação de tv entender que o mais legal é a especulação sobre as possibilidades e não necessariamente a sua versão predileta.
Subscribe to:
Post Comments (Atom)
3 comments:
Até tivemos uma experiência assim a alguns anos atrás, não lembro exatamente o ano, mas tinha um programa na Globo chamado de Você decide onde as pessoas ligavam para decidir o final.
A interatividade no Brasil não é necessária no que toca as 'novelas, penso eu. Com tantas décadas de audiência em cima do final previsível, os espectadores se sentem ultrajados quando não vêem o esperado. Programas como Big Brother e inciativas do Fiat Idea não podem ser comparados com isso, entende?
Eu acredito que o Brasil não abrigue um "público interativo" porque seus ideais e opiniões são moldados justamente pela informação e entretenimento que chega pela televisão e rádio, unicamente. Consequentemente os resultados de, por exemplo, uma votação teriam grandes chances de ser o mesmo final que qualquer autor daria a alguma novela...
Vanessa
http//:garotacocacola.wordpress.com
Olá Ricardo!
Muito o post sobre contúdo interativo. Acredito que o Brasil como país que é, que cresceu a ver as coisas através da televisão, poderá tornar a Internet e seu conteúdo principalmente interativo, através justamente da participação. Assim, o país tende a crescer e a evoluir cada vez.
Post a Comment