Sunday, January 10, 2010

Motivos para acordar cedo demais nas férias


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Acordei sem querer cedo demais nesse dia. Demais mesmo. Algo como 5:40 da manhã.
Olhei pela janela para tentar imaginar que horas eram, pois o meu celular que é o meu despertador oficial de cabeceira, tinha perdido totalmente a função nessas férias, aliás ele também estava de férias. Basta dizer que na casa em que ficamos não pegava o sinal da minha operadora, nem para falar e muito menos para acessar internet. Então logo deixei pra lá esse vício de bolso nos primeiros dias em que cheguei nas férias.

"Cheguei" nas férias mesmo. As férias esse ano não era um tempo, era um lugar, isolado e muito ensolarado, me propiciando a falta de contato com o meu  cotidiano e um excesso de contato com a minha família e a família da minha família. E quem disse que "excesso" não faz bem, tá louco. Isso fez tudo ser muito diferente, especial.

Basta dizer que acordar praticamente de madrugada foi bom. E foi mesmo, porque me fez presenciar  esse cenário. Aliás, não me restou dúvidas de que o mínimo que eu deveria fazer era vestir uma bermuda imediatamente, passar a mão na câmera e andar uns 200 metros que separavam a minha cama da areia da praia, mesmo a essa hora da manhã. Aqui vai o caminho até chegar...


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No caminho, o chão foi se transformando, da grama do jardim veio a calçada, ladeada do asfalto da rua e em pouco tempo a areia úmida do sereno ajudava a construir uma sensação única e maravilhosa de compartilhar só com a própria natureza esse momento tão mágico.

De repente, a última duna. Antes de chegar o mar e o céu, criou-se um contraste incrível na minha vista, era uma sensação de tudo ou nada, de terra firme e não.


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Pronto, nada mais havia entre mim e isso tudo. É estranho a sensação de fotografar algo tão comum como o nascer do sol, mas ao mesmo tempo, é tão maravilhosa e única a sensação de testemunhar esses instantes.

E pensar que todos os dias, sem exceção, esse fenômeno acontece. Só posso falar uma coisa: como a gente é medíocre de reclamar de acordar cedo. Porque será que a gente nunca consegue equilibrar as nossas necessidades no dia-a-dia. Sei lá, talvez se eu equilibrasse mais a minha vida essa cena não seria esse tapa tão forte na minha cara.


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De repente olho pro lado e vejo alguém. Não estou mais sozinho. Um senhor se aproxima do mar com muito menos cerimônia do que eu e adentra a água gelada do mar de Santa Catarina com a mesma naturalidade com que adentro o edifício em que a trabalho lá no Real Parque. A diferença é que o dia-a-dia dele não é mais analógico do que o meu, é orgânico.

Aliás poucas vezes senti tão forte essa sensação do "orgânico" na vida. Não da palavra em si, mas do que se sente quando o significado realmente se faz presente de forma sinestésica, a ponto de você sentir isso na pele. A primeira vez que isso tinha me acontecido, essa consciência de de ser vivo, incrivelmente vivo, foi ao acompanhar a gravidez da Lili, minha esposa, e por fim com intensidade plena no nascimento do João Pedro, meu filho.

É incrível como este lugar, quase de madrugada, me traz novamente um bocado dessa sensação do quanto a gente é "bicho". Na verdade acho que um pouco diferente, é como se nós fossemos filho da terra, digo filho do chão mesmo, igual a um alface, uma batata ou uma mandioca.

De qualquer forma, é uma pena que apesar das cores incríveis, o nascer do sol tenha ficado tão gasto no mundo da fotografia, já que é tão raro de ser vivenciado no dia-a-dia.

E lá vai o senhor que chegou na praia, e lança a sua rede para pescar.







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Novamente minha atenção volta para luzes, texturas, riqueza de contrastes que se formam com o entrar bem devagarinho das outras cores na paisagem. Cada minuto é uma palheta de cor mais incrível que a outra. É como se fosse feita uma revelação minuciosa da composição de como o mundo é construído. E lá vai um pouquinho mais de ciano ...



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Outra descoberta às 6 da manhã..  Deus é impressionista :)




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Agora a vida, as cores e o movimento em "terra firme" começa a se manifestar, mas a natureza ainda resiste. O nevoeiro ao longe mostra a Terra respirando.









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E mais um dia começa a acontecer. Vai deixando de ser "o dia" para ser um dia.




Decidi ir embora antes de tudo voltar ao normal. Não é que eu vou virar abóbora, mas quero me lembrar desse dia depois de acordar. Quero voltar pra casa ainda sob a luz do amanhecer e conseguir dormir como se fosse noite. Quer dizer, como se tivesse vivido um sonho pra me lembrar e ainda ter as fotos pra me ajudarem a contar sobre aquele dia que aconteceu no meio de uma noite de verão.

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Local: Praia do Gi (ao lado de Laguna, conhecido como Laguna Internacional
Aproximadamente 105 km de Florianópolis (SC)

Santa Catarina

3 comments:

Fabio Fermo said...

Conheço esse lugar. Na realidade o condomínio, o pessoal da empresa tem casa lá. O lugar é realmente lindo, ainda mais nas fotos do nascer do sol. É exuberante. E o caminho da rua até a areia tem muita historia pra contar.

Elienai Allebrandt said...

oi Rica, li seu texto agora de manhã e foi um privilégio poder compartilhar as maravilhosas imagens e o texto tão lindo. Obrigada. bjs

amf said...

Lindas fotos!! =]